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Quando foi que os dias de compras passaram a dominar as nossas viagens?

Updated: Sep 10, 2018

por Vera Rocha


Lembro-me de muitas das minhas viagens, criança e adulta, o objetivo sempre foi o passeio, conhecer lugares e aprender. Ser surpreendido por aquela exposição fantástica, o filhote de tigre que acabara de nascer no Zoo ou descobrir que a pintura do seu artista favorito estava emprestada… Muito longe dali.


Tenho na memória mais remota o cheiro da cidade de Ouro Preto que visitei pela primeira vez aos 3 anos de idade. Tenho caderninhos com anotações sobre passeios, ingressos, bilhetes, mapas. Observações sobre gastos com compras que quase nunca ultrapassavam um dia. Dependendo do destino, nem havia o que comprar…


A graça das viagens era ser expectador ou parte do lugar, às vezes quase um cidadão. A maior lembrança as fotos escolhidas a dedo, afinal não existia o mundo digital.


Hoje se multiplicam as viagens com base no consumo. Viaja-se para comprar e ostentar e nem sempre se percebe que a língua falada é outra, que a comida pode ser diferente, que a paisagem e o clima são únicos, assim como a arquitetura e a organização.


Fui do tempo em que o planejamento das viagens nos demandava a leitura de guias, cadernos de jornal, revistas especializadas e dicas de amigos viajados que não se importavam em compartilhar seus achados: cidades, hotéis, passeios, restaurantes… Hoje, a leitura de um ou dois sites já é suficiente para muitos decidirem roteiros inteiros. Interessante que com tanto acesso à informação, tantas possibilidades no horizonte, maior número de viajantes e oportunidades de destino a baixo custo, vejo crianças e pais em sua quinta ida consecutiva para a Disney, já elaborando a lista de compras da próxima. Ao adotar este modelo de lazer-consumo, vamos criando crianças cada vez mais dependentes do prazer associado ao consumismo… a mesma criança que só se diverte quando vai ao shopping…


É claro que surgem outras possibilidades: pessoas que depois de anos e anos viajando para comprar, resolveram que chique é viajar e voltar leve; as viagens como foco na natureza também estão em alta…


Mas, eu estou falando do modelo que se estabeleceu e que vem contaminando as nossas crianças. Vamos romper com os  shoppings e outlets como única opção, vamos dar a oportunidade das nossas crianças terem viagens que se tornarão marcos, lembranças especiais, possibilidades de aprendizagem e diversão que vão além de pacotes e malas…

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